Me vejo entediado deitado no sofá, vendo na TV imagens frustradoras do meu programa preferido, aquele que relata certos problemas da minha vida, não me sinto nada constrangido, bem quieto mordo uma maçã e ela se apodrece ao decorrer da mordida, meu veneno se lastra bem fácil e dou mais duas ou três mordidas quase me sufocando de prazer, a TV que no momento encontra-se fora do ar, me reflete como espelho e eu vejo ali, me divertindo com meu próprio gosto e com os meus olhos brilhando, me assusto com as imagens que agora estão de volta, o efeito da morfina havia se espalhado pelo meu corpo um tempos antes, sinto minha couraça bem firme, firme a ponto de ouvir a parte que poderia mais doer e continuar ali, quieto, tranquilo, sem reações, a parte onde mostra tudo que foi dito, tudo que foi feito, todos os planos colocados sobre a mesa, o jogo aberto, tenho eu que não tenho mais nada há dizer, nem posso tentar fazer absolutamente nada, nem pensar em tentar fazer nada, é assim e vai ser assim, agora tenha o meu tédio entregue de bandeja, suporta? sente-se, não suporta? saía.
E que isso se espalhe e permaneça por prazo indeterminado até eu poder me acostumar.
Traga mais morfina, traga menos afeto.
Danilo C.
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