segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Me despindo

Gripado, com febre, vista pesada, olhos vermelhos lacrimejando, nariz escorrendo, gosto de remédio na garganta, descabelado, de meia até a canela, samba canção, camisa suja do café sem gosto que tentei fazer com o resultado sem sucesso e eu andando pela casa que nem um mendigo a procura do sono, que apesar do meu corpo todo doer e querer repouso, minha mente pede uma forma calma pra sanar meu descontrole, sento no chão tentando relaxar e meu corpo se levanta a procura de algo pra fazer, abro meu guarda roupas, tento começar uma organização que foi encerrada no primeiro papel que me veio na mão, sento novamente e abro aquele papel amassado que continha a primeira coisa que eu escrevi sobre aquela pessoa, fiquei arrepiado e com receio de ler, na verdade eu nem li, minha reação estranha foi mais forte e eu realmente não entendi a razão das minhas mãos serem mais rápidas e rasgar em mínimos pedaços aquele pedaço de papel, levantei meio desajeitado, com a cabeça pesada, com muita pressa eu fui jogar os pedaços do papel no lixo, aproveitei e joguei fora o café sem graça que só serviu pra aumentar o gosto amargo da minha boca, voltei pro meu quarto, deitei na cama com a luz acesa, olhei dentro da lâmpada que quase me cegou, que com reprovação meu olhos se fecharam com força, senti pequenas pontadas de dor na minha cabeça, pensei que com os olhos fechados bem firmes o sono poderia chegar, me veio a cabeça a ultima vez que vi aquele olhar, aquele de luz natural, que quando faz um olhar de nada, ou melhor, uma expressão de nada, olhando pro nada, levantando a sobrancelha e trancando a boca vermelha e expressiva, me sufoca e me tem tentado a decifrar o que se passa por trás daquela expressão, lembro dos gestos e reações diante a mim, que eu gravo pra depois dar forma e em seguida costurar no meu coração, fui mais fundo e lembrei que aquele rosto é a razão dos meus porres, de quando eu bebo, de quando eu não acredito em Deus, de quando eu quebro tudo, de quando eu estou ali, quebrando os copos e lambendo o meu sangue, quando eu acho que fiquei louco e tento procurar com meu dedo no meu próprio vômito o motivo de tanto desespero, o motivo de tanta admiração, não sei de onde vem isso se eu já matei isso tantas vezes em pensamento, ai sim eu entendi o porquê de ter rasgado aquele papel, talvez seja melhor mesmo rasgar tudo, queimar tudo, pra depois não me arrepender por tanta entrega, tanta dor, tanto medo, deixo esses fatos de lado e o suspiro veio mais calmo, limpei com a mão o rosto encharcado, apaguei a luz, tentei não pensar em nada e me vem Creep na cabeça, essa musica me vem quase serrando meus pensamentos...
Será a redenção?

Danilo C.

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